O treinamento é uma mistura de técnicas básicas de salvatagem no mar, primeiros socorros, combate a incêndio e assim por diante. Mesmo não tendo muito certeza se estou ou não pronta para combater um incêndio, por exemplo, gostei bastante do treinamento. Dá um medinho de pular de um trampolim de três metros de altura sem saber nadar (mesmo de colete), que pode até não parecer alto, mas quando você olha pra baixo dá vontade de sair correndo! Pode parecer bobagem, mas fiquei um pouquinho orgulhosa de mim por pular, mesmo quando o instrutor dizia que preferia que não pulássemos, por causa umas meninas que passaram mal ao ficar muito tempo olhando pra baixo. Pulei! A sensação de vento na sola nos meus pés foi incrívelmente duradoura! Eu pensava:" Meu Deus! A água não chega nunca!" Em questão de segundos atingi a água, mas deu tempo para vários pensamentos desordenados cruzarem minha mente. Já na água, o instrutor mergulha e te puxa para que você chegue a superfície mais rápido. Eu, desesperada, só sabia dizer: "Nunca mais faço isso!" Mentirinha, eu faço sim! No combate a incêndio, também fiz questão de ficar até o final, mesmo quando não era mais obrigatório. Não gostaria de olhar para trás e dizer: "Nossa, eu podia ter feito e não fiz!" Fiquei satisfeita.
O mais importante do treinamento pra mim, foi o contato com as pessoas que vão passar pela mesma experiência que eu. Era um grupo de trinta pessoas mais ou menos, e cada uma vinha de um estado e tinha uma história diferente. São pessoas que, como eu, tem toda uma vida por aqui, mas que simplesmente desejam essa passar por esse momento de ir pra um lugar distante, passar um tempo e depois voltar. Deixam faculdade, família, emprego e projetos por algo a mais. Era tão fácil conversar com eles. A gente simplesmente se entendia.
Estou numa fase de contar para meus parentes que vou viajar para trabalhar numa empresa americana embarcada em um navio de cruzeiros, e tenho escutado: "Olha, não estou feliz por você, mas se é o que você quer..." ou "Você vai ficar igual aqueles homens presos na mina, trabalhando dia e noite!" Que bom que não reuni a família para contar a todos de uma só vez. Já tenho dificuldades em contornar um a um, quanto mais todos juntos!
Relacionando a experiência do treinamento e a parte de comunicar minha partida à família, percebi uma coisa muito importante. Quem entende, simplesmente entende. Quem não entende, não adianta tentar explicar. Não digo isso só por minha família, mas também por amigos que estudaram comigo, que fazem as mesmas coisas que faço. Isso porque eu nem contei que consegui cinco anos de visto (wohoo!), que pretendo ficar uma ano e meio, e que pretendo voltar depois (se tudo der certo).
Amo todos. Os que entendem e os que não entendem. Mas como dizia no parágrafo acima, não adianta tentar explicar. Neste momento, decido cercar-me das pessoas que simplesmente entendem, para que possa multiplicar e depois dividir meu bem estar. Faço isso para conseguir pontencializar a energia que sinto e direcioná-la no sentido de tirar o melhor proveito possível de cada passo dado e manter-me plena, acima das nuvens de insegurança que teimam em permanecer turvando minha visão.
Pessoas que "simplesmente entendem", do treinamento ou fora dele, funcionam como bons ventos que ajudam dispersar estas nuvens que pairam em meu caminho. Por isso, pessoas, sou grata e quero que continuem por perto. Ainda tem muita estrada pela frente!